Portugal é mesmo surpreendente quando se fala em vinhos

Aconteceu recentemente a prova anual promovida pela entidade Vinhos de Portugal aqui no Brasil. Portugal é um país que tem uma boa tradição em vinhos e inclusive algumas coisas bastante exclusivas, como os Portos, os vinhos da Península de Setúbal e os da Madeira, por exemplo.

E por aqui temos uma ótima oferta de vinhos de lá, mas mesmo assim, quando vou a uma degustação dessas, eu acabo percebendo que Portugal é mesmo surpreendente. Seja pelo potencial de envelhecimento com qualidade (veja degustação abaixo), seja pela variedade ou pela qualidade, o fato é que eles estão se destacando no cenário do vinho.

Provei alguns vinhos interessantes na feira e eu recomendaria que você, enófilo mais atento, dê uma atenção para os vinhos de Portugal nas cartas das importadoras e faça um “pequeno passeio” por eles. Acho que dificilmente vai se arrepender.

E se conseguir safras mais antigas, alguns deles ganham uma excelente complexidade com o tempo, como é o caso desses que eu provei e que conto abaixo. Esses foram tema de uma degustação especial conduzida pelo Jorge Lucki e vários deles não são mais encontrados no mercado, mas de qualquer forma vale como balizador para suas próximas compras ou guardas.

Degustação de safras antigas

Quinta de San Joanne Escolha 2000
Minho (Vinhos Verdes)
Produtor Casa de Cello
Avesso, Alvarinho, Chardonnay
Apesar de os produtores de Vinhos Verdes não gostarem de deixar seus vinhos envelhecer, eles ficam bem legais. Esse estava bem vivo e ao mesmo tempo apresentando toques de oxidação, mas interessantes. O toque floral e de frutas em calda estão ainda bem presentes.

Quinta dos Termos Reserva 2002
Rufete, Marufo, Trincadeira Preta e Jaen
Esse vinho foi clarificado naturalmente, quando passava de tanque para outro tanque (trasfega). Excelente acidez. No nariz inda tem frutas frescas e na boca vem essas frutas com bastante intensidade. Vale provar pela qualidade e também para conhecer essas uvas bem diferentes.

Quinta do Crasto 2004
Quando não fazem o vinho Maria Teresa, que é bem caro por sinal, as uvas vão para o Quinta do Crasto. Em 2004 não teve Maria Teresa, então possivelmente as uvas são desse vinhedo. O vinho está inteiro, cor muito intensa e muita fruta na boca. Vinho que fica marcando a boca por um bom tempo.

Marques de Borba Reserva 2003
Feito pelo mestre de enologia João Portugal Ramos. Vinhedo pequeno, com pouco mais de 6 hectares. Ano muito quente, que gerou bastante tanino mas que vem também com um pouco de amargor. As frutas já estão mais “cozidas”.

Cortes de Cima Reserva 1998
Fresco e leve, fácil de beber, mas que parece que já foi amaciado com o tempo. Me faz pensar que os bons vinhos do Alentejo podem (e devem) envelhecer um pouco para que fiquem mais complexos e macios. Foi uma das estrelas da degustação, deixando todos encantados.

Pêra Manca 1998
Chamava Cartuxa Garrafeira. Está ainda com o rótulo antigo que ficou guardado pro mais de 150 anos. Vinho esgotado em todos os lugares e foi pego na adega do irmão do importador. Está evoluído, mas está delicioso. No ponto, com muita complexidade e redondo, com um final muito longo. Para se beber com calma.

Moscatel de Setúbal 30 anos
Aromas de café, toffe, melaço. Um vinho surpreendente, com muito corpo, licoroso e denso, mas ao mesmo tempo delicioso. Ficou em média 30 anos em barrica, mas nem produtor sabe ao certo o tempo que ficou.

Porto Burmester Colheita 1955
Blend de vários vinhedos, mas que permanece por mais tempo nos cascos antigos e é engarrafado em data posteriores. Engarrafado em 2011. Cor bastante evoluída, aromas de frutas secas e que deve combinar bem com frutas secas (segundo Lucki).

Se não encontrar um Porto 1955, não tem problema. O que vale é ficar atento e guardar os vinhos certos para beber no futuro.

Um abraço

Daniel Perches


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