Quando devo abrir meus vinhos?

Recentemente um amigo me contou que estava com uma garrafa de um vinho (considerado top de linha) nacional em casa, do ano de 2004. Era um vinho tinto e que, segundo o produtor, poderia ser guardado por muito tempo – mais de 10 anos – e ele então estava despreocupado. No entanto, resolveu abrir agora, em 2010, e teve a ingrata surpresa de ver que o vinho estava já em total declínio. Quando ele me contou, eu tratei de me apressar, pois eu tinha o mesmo vinho, mas da safra 2005 em casa, também guardado em adega nas melhores condições possíveis. Abri o meu e também não obtive o melhor do vinho. Esse não estava tão “caído”, mas sei que poderia ser muito mais prazeroso se eu tivesse aberto antes.

Situações como essas nos fazem sempre pensar: quando devemos abrir os nossos vinhos? Qual o tempo certo de armazenagem?

Vamos falar disso hoje, mas sempre lembrando que os tempos são diretamente proporcionais à forma de acondicionamento. Se você não tiver uma adega climatizada em casa, procure sempre um local longe do calor, da luz direta e da trepidação.

Espumantes
Em geral, os espumantes são produzidos a partir de cortes de safras diferentes e são engarrafados sem a necessidade de se informar o ano de fabricação. A grande maioria deles é feita para consumo praticamente imediato. Guarde seus espumantes por no máximo 1 ano em casa. Como ele deve ser servido bem gelado, a tendência é deixar na geladeira. Mas cuidado, pois ela resseca a rolha, dificultando a abertura posterior. Se possível, guarde em um local fresco e só coloque para gelar quando for consumir (1 dia antes basta) ou então em um balde com gelo (1 hora antes do consumo). Faz-se exceção os Champagnes e os espumantes safrados, além dos espumantes tops de linha de algumas vinícolas, que são feitos para durar muitos e muitos anos.

Brancos e Rosés
São vinhos que também devem ser consumidos jovens, em sua grande maioria. Os vinhos Sauvignon Blanc, por exemplo, quanto mais jovens, mais frescor e acidez vão apresentar, trazendo mais prazer à degustação. O mesmo se faz valer para os rosés, que pela sua característica de produção, não deve ser armazenado por muito tempo. Compre e consuma esses vinhos com no máximo 3 anos de idade entre a produção e o ano que estamos. Aqui também se faz exceção os brancos que passam por barricas e, claro, alguns grandes rosés que são produzidos para uma longa guarda. Em geral, os produtores alertam sobre isso nos rótulos e dizem inclusive o tempo que você pode guardar esses vinhos.

Tintos
Aqui temos que quebrar aquele paradigma que dizia que “quanto mais velho for o vinho, melhor ele fica”. Isso não é verdade e na verdade 95% de toda a produção de vinhos no mundo inteiro é feita para consumo rápido, praticamente imediato. Os tintos têm uma vida um pouco mais longa que os brancos e rosés, algo em torno de 5 anos após o ano de sua produção. Claro que aqui também temos as exceções que são os grandes vinhos (que praticamente todo país produtor faz), que são tratados especialmente para que durem décadas e até séculos.

Fortificados / Licorosos
Aqui estamos falando dos vinhos do Porto, Madeira, Jerez e os de sobremesa (Late Harvest, por exemplo). Esses vinhos têm uma longevidade ainda maior e alguns deles, como os Sauternes (produzidos na França) começam a ficar bons depois de pelo menos 10 anos de produção. Antes disso, nem é recomendável abrir. No entanto, principalmente na categoria de vinhos do Porto, há alguns tipos que podem e devem ser abertos antes desse tempo todo, como os portos Tawny e Ruby. Antes de comprar uma garrafa e deixá-la guardada por muito tempo, verifique se ela se enquadra nessa categoria. Senão, abra e aprecie (sempre com moderação).

Essas são regras gerais e que servem como balizadoras para a sua organização e conhecimento, mas seguindo-as você não vai perder nenhum vinho em seu estoque e com certeza terá um belo prazer ao abrir todos eles.

E lembre-se que se você demorar muito para abrir seus vinhos, pode ser que esteja com uma bela adega de vinagres em casa e não saiba.

Um abraço

Daniel Perches

*Esse artigo foi publicado também no portal Itu.com.br e no Jornal Bleh.


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